O caso do roubo da carga de ouro avaliada em R$ 110 milhões surpreendeu muita gente e trouxe a atenção a um tipo de crime específico: o roubo de cargas milionárias.
Por isso, vamos relembrar aqui 6 casos de roubo de cargas milionárias ocorridos no Brasil. Este tipo de crime geralmente envolve quadrilhas especializadas e uma logística complexa. Dois desses, ocorridos em sedes da Protege, foram roubos aos cofres. Porém, foram inclusos na lista por envolverem uma empresa de transporte de valores.
Carga de 61 kg de ouro em Brasília – R$ 1 milhão
Há 19 anos atrás, no Distrito Federal, acontecia um roubo de carga milionário bem parecido com o ocorrido em Guarulhos na semana passada.
Em 6 de julho de 2000, assaltantes fortemente armados invadiram o Aeroporto de Brasília e levaram carga de ouro avaliada, na época, em R$ 1 milhão.
O grupo chegou armado com metralhadoras e vestindo coletes à prova de balas na pista do Terminal de Cargas de Brasília. Eles cercaram a aeronave da antiga companhia aérea Vasp – com 70 passageiros embarcados – pegaram as barras de ouro, o equivalente a 90 kg, colocaram em dois veículos e fugiram.
Ainda dentro do terminal, 23 kg de ouro caíram da caçamba de uma das caminhonetes. Os ladrões deixaram o pacote para trás.
A ação envolveu 15 pessoas e 4 veículos. Mais tarde, descobriu-se o envolvimento de um ex-policial civil do DF, que se tornou suspeito. Segundo o G1, em 2015 o agente ainda estava foragido.
Carga de eletrônicos na Samsung em Campinas – R$ 14 milhões
Em 2014, uma fábrica da Samsung em Campinas, interior de SP foi assaltada na madrugada de 7 de julho no Parque Imperador, às margens da Rodovia Dom Pedro I.
Segundo a Polícia Civil, aproximadamente 20 criminosos renderam funcionários e vigias, e usaram sete caminhões para levar cerca de 40 mil peças, entre tablets, celulares e notebooks.
A carga é avaliada em R$ 80 milhões, de acordo com os policiais responsáveis pela investigação. Já a empresa informou que valor seria de R$ 14 milhões.
Para a Polícia Civil, os criminosos tinham muitas informações sobre os procedimentos da empresa. Com o decorrer do tempo, foram presos seis pessoas suspeitas de participar do crime, incluindo um funcionário. Cinco pessoas ainda estão foragidas.
Parte da carga roubada foi recuperada no Paraguai, em agosto de 2014, por policiais da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) durante buscas em quatro lojas em Ciudad Del Este.
Mega-assalto na Protege em Campinas – R$ 50 milhões
Também ocorrido em Campinas, dessa vez no dia 14 de março de 2016, a ação deste roubo milionário impressiona pela complexidade. No primeiro mega-assalto, em 2016, a quadrilha cercou e invadiu à sede da Protege em Campinas.
A quadrilha usou dinamites e armas de grosso calibre na ação, para acessar os cofres. Para evitar abordagem de policiais militares, o grupo espalhou pedaços de ferro no chão para furar pneus e fez disparos de armas.
Eles ainda atearam fogo em dois caminhões para bloquear o acesso de quem chegava pela Rodovia Anhanguera. Ninguém ficou ferido durante a ação, apesar das balas de fuzil terem atingido prédios e casas vizinhas à Protege.
Quatro suspeitos, além do homem que planejou o crime, foram presos alguns meses depois do ocorrido. Apesar das prisões, dos R$ 50 milhões roubados da empresa de valores, a polícia recuperou apenas R$ 16 mil.
Mega-assalto na Protege em Araçatuba – R$ 10 milhões
Já em 2017, em Araçatuba, interior de São Paulo, um crime muito parecido aconteceu na sede local da Protege. Na madrugada de 16 de outubro daquele ano, uma quadrilha explodiu o prédio da empresa de valores e levou cerca de R$ 10 milhões. Um policial foi morto na ação.
O assalto cercou a cidade paulista e atacou também o quartel da Polícia Militar, que ficava a 800 metros de distância da Protege. Os criminosos atearam fogo em dois caminhões para bloquear a saída das viaturas do quartel, além de atirarem contra a entrada para impedir a saída dos policiais.
Houve troca de tiros. Na sequência, outro grupo foi até a empresa de valores e usou dinamite para explodir o prédio. Eles ficaram cerca de 40 minutos na sede da Protege.
Um policial que estava de folga foi até o local ao ser chamado pelos pais, que moram perto da empresa, e acabou baleado. Ele foi socorrido com vida, mas morreu enquanto era atendido na Santa Casa. Segundo o hospital, outras duas pessoas ficaram feridas em decorrência da ação, porém foram ferimentos leves.
De acordo com a Polícia Rodoviária Federal, os ladrões ainda usaram um caminhão canavieiro para bloquear a pista da rodovia Marechal Rondon, no sentido Birigui-Araçatuba (SP).
Carga de celulares na Ilha do Governador – R$ 3,4 milhões
Em 15 de abril de 2018, três homens roubaram celulares de última geração no Terminal de Cargas do Aeroporto Internacional Tom Jobim, na Ilha do Governador.
Segundo o diretor de segurança do Sindicato de Empresas de Transporte Rodoviário e Logística do Rio (Sindicarga), coronel Venâncio Moura, mesmo com todos os cuidados e o uso de veículos blindados para o transporte, a carga foi roubada “facilmente”.
Ele conta que os criminosos chegaram em um caminhão, vestidos com uniformes semelhantes aos usados pelos empregados do terminal de cargas, armados com pistolas. Eles ameaçaram os funcionários, que foram trancados em uma sala, enquanto eles roubavam as caixas dos celulares.
O lote roubado era de aparelhos Samsung Galaxy S9 e foi avaliado em cerca de R$ 3,4 milhões. O modelo ainda não havia sido lançado oficialmente na época.
A carga foi levada para o Complexo da maré e a Polícia Militar foi acionada, de maneira informal, na noite seguinte, em 16 de abril.
A polícia informou ainda que, diante das informações de que a carga estaria na Maré, o comandante do batalhão teve que ver a melhor forma de proceder, porque já havia passado o tempo hábil e precisavam preservar a segurança dos moradores e acrescentou que há um protocolo de segurança na comunidade que tem que ser seguido.
Carga de celulares em Porto Alegre – R$ 2 milhões
No dia 26 de fevereiro deste ano, uma quadrilha formada entre seis a 10 criminosos roubou durante a madrugada uma carga de 9 mil celulares, que equivale a R$ 2 milhões, de um terminal do Aeroporto Internacional Salgado Filho, na zona Norte de Porto Alegre.
Segundo informações da Brigada Militar e do titular da Delegacia de Roubo de Cargas, delegado Arthur Raldi, o grupo conseguiu ingressar no local usando o “passe” de um funcionário de uma transportadora que usa o espaço de cargas da Latam.
O roubo começou com o sequestro do dono da transportadora, que foi rendido e obrigado a ligar para um dos seus funcionários, um motorista, para que fosse até a residência com um caminhão da empresa.
Ao chegar em Alvorada, o motorista também foi rendido pela quadrilha. A partir daí, o grupo se dividiu: enquanto alguns permaneceram na casa com o dono da transportadora, os outros comparsas ingressaram no baú do caminhão e acompanharam o motorista até o terminal de cargas do aeroporto.
A presença do motorista da transportadora facilitou a entrada de parte da quadrilha no terminal de cargas e lá, no espaço administrado pela Latam, o grupo realizou o roubo dos 9 mil celulares. Na fuga, os criminosos deixaram o local sem deixar suspeitas, ainda na companhia do funcionário da transportadora. A vítima foi solta minutos depois e os assaltantes fugiram. As informações são do Correio do Povo.
Fuga de informação
De acordo com dados divulgados pelo IV Fórum de Prevenção de Roubo de Cargas, 70% dos roubos de carga acontecem por fuga de informação – quando alguém envolvido na cadeia logística passa informações importantes aos assaltantes.
Em casos de roubo de cargas milionárias, essas informações fazem toda a diferença. Em praticamente todos os casos listados nesta matéria, houve a participação de pessoas ligadas às empresas roubadas.
Infelizmente, existem casos em que o motorista do caminhão facilita a ação dos criminosos de alguma forma. Entretanto, de acordo com a Setcesp, apenas 1,5% dos caminhoneiros estão envolvidos em roubos de cargas no Brasil.
Alguns motoristas aceitam carregar sem ter todas as informações sobre a carga e é aí que mora o perigo. Sem esse conhecimento, o estradeiro corre o risco de estar transportando carga roubada.
Hoje, a lei determina que o condutor de veículo que for utilizado para a prática de receptação, descaminho e contrabando, caso seja condenado por um desses crimes em decisão judicial, terá sua CNH cassada ou será proibido de obter a habilitação para dirigir pelo prazo máximo de cinco anos.
A lei, que foi sancionada no início de 2019, visa impor ao motorista a responsabilidade de se certificar se a carga é ilícita, sob o risco de ter sua carteira de motorista cassada e ficar impossibilitado de trabalhar.
Fonte: Trucão com Pé na Estrada