Célestin Freinet – Referência pedagógica nos dias atuais.

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Célestin Freinet, nasceu em Gars, um povoado no sul da França, em 15 de outubro de 1896, vindo a falecer em 8 de outubro de 1966,  pedagogo e pedagogista anarquista,  foi e ainda é uma figura de grande referência na educação.

Enquanto cursava o Magistério foi obrigado a alistar-se, pois estourava a Primeira Guerra Mundial, interrompendo seus estudos.  No exército  teve uma lesão pulmonar causada por gases tóxicos. Esta experiência o transformou em um pacifista convicto. Em 1920 iniciou seu trabalho como professor de escola primária, antes mesmo de concluir o curso normal. Foi quando Freinet começou a desenvolver seus métodos de ensino. Ele atuou como professor-adjunto em Le Bar-sur-Loup e docente em Saint-Paul. Devido sua lesão, comprou um tipógrafo para auxiliar a atividade de ensino. Foi com este tipógrafo que imprimiu textos livres e jornais da classe para seus alunos. Os trabalhos eram compostos pelas próprias crianças, que os discutiam e os editavam em pequenos grupos, antes de apresentar o resultado à classe. Estes textos aos poucos foram substituídos pelos livros didáticos convencionais.

O movimento da Escola Moderna na França surgiu com a criação uma cooperativa de trabalho com professores da aldeia de Freinet, por volta de 1924. Neste mesmo ano inicia as primeiras correspondências escolares. Em 1925, conhece a artista plástica Élise, que começa a trabalhar como sua ajudante e em 1926 casa-se com ela, e anos depois tem com ela uma filha, Madeleine Freinet. Escreve o livro A Imprensa na Escola e cria a revista La Gerbe (O Ramalhete) composta de poemas infantis. Os métodos do ensino de Freinet eram divergentes da política oficial de educação nacional e causava um clima de desconfiança, especialmente devido ao grande volume de correspondências trocadas, por esta razão ele foi exonerado de suas funções em 1935 e começou sua própria escola, junto com sua esposa, pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial. Na cidade de Saint-Paul de Vence, surge seu  primeiro conflito ideológico, devido a uma comunidade conservadora, que reprovou seus métodos didáticos e forçando sua exoneração do cargo de professor, em 1933. Foi preso durante a Segunda Guerra Mundial, em 1940, como subversivo, tanto por sua filiação ao Partido Comunista como por suas atividades inovadoras no campo pedagógico. Ao final da guerra, passou a ser chamado frequentemente a colaborar com políticas oficiais e foi tachado de pensador burguês pela cúpula do PC. Neste mesmo ano criou o ICEM, Cooperativa do Ensino Leigo que reunia mais de 20 mil pessoas. Lançou uma Campanha Nacional, em 1956, para quantificar os alunos nas salas de aula. Sua luta era por 25 alunos em cada classe. Freinet continuou com sua crença no socialismo e com seus planos para criação de um ensino de caráter popular na França e em outros países.

Sua carreira pautava-se na construção dos princípios educativos de sua prática. Freinet propunha uma mudança da escola, pois a considerava teórica e portanto desligada da vida.

Suas propostas de ensino baseiam-se em investigações do modo de pensar da criança e de como ela constrói seu conhecimento. Através da observação constante ele percebia onde e quando tinha que intervir e como despertar a vontade de aprender do aluno.

A interação professor-aluno dentro desta pedagogia é essencial para a aprendizagem. Estar em contato com a realidade em que vive o aluno é fundamental. As práticas atuais de jornal escolar, troca de correspondência, trabalhos em grupo, aula-passeio são ideias defendidas e aplicadas por Freinet desde 1920.

O aspecto político e social ao redor da escola não deve ser ignorado pelo educador. Deve-se mesclar o trabalho com a vida em comunidade, direcionando o movimento pedagógico em defesa da fraternidade, respeito e crescimento de uma sociedade cooperativa e feliz. È através do trabalho que o ser humano se exprime e se realiza eficazmente. O trabalho engloba toda pesquisa, documentação e experimentação, na visão de Freinet. Outro aspecto fundamental é a liberdade.

Freinet buscou técnicas pedagógicas que pudessem envolver todas as crianças no processo de aprendizagem, independentemente da diferença de caráter, inteligência ou meio social.

Frases de Freinet:

a democracia de amanhã se prepara na democracia da escola.

“Se não encontrarmos respostas adequadas a todas as questões sobre educação, continuaremos a forjar almas de escravos em nossos filhos”.

A Pedagogia Freinetiana tem como objetivo modernizar a escola, marcando assim uma nova etapa da evolução da mesma, alicerçada em valores do bom senso. Freinet não quer uma escola à parte, e sim uma escola do povo.  E esta deverá ser modernizada para atender, na sua essência. Para isso revolucionou a educação de um modo geral, estabelecendo uma verdadeira relação professor-aluno.

Este movimento é uma reação contra tudo o que existe de tradicional na escola. Na sala de aula há harmonia e disciplina, onde professores e alunos estão em um mesmo plano e discutem em conjunto os problemas da vida cotidiana e os conhecimentos básicos. Respeitando o indivíduo e a diversidade, reencontrando a identidade própria do ser humano através da individualidade de cada um. Não submetendo as crianças a modelos pré-estabelecidos e sim as respeitando tais como elas são, ajuda-as na formação de sua personalidade. Esta pedagogia procura oferecer às crianças e aos adolescentes uma educação condizente com as suas necessidades e mediante as práticas cotidianas, sendo real e concreta.

A pedagogia de Célestin visa formar o homem mais responsável, capaz de agir e interagir no seu meio; tornando-o apto a contribuir na transformação da sociedade.  Sua prática educativa preza o desenvolvimento do espírito crítico, o questionamento das ideias recebidas, o espírito de curiosidade.

A Pedagogia Freinet, esta centrada no homem, seus fundamentos e as linhas de ação pautam-se na dignidade do ser. É a realização plena de sua personalidade através da vivência de sua cidadania, ou seja, sua pedagogia não se dá no vazio de uma ação educativa sem rumos concretos. Por essa razão ele estabelece bases de apoio que são os seus princípios.

Os pilares da proposta Pedagógica Freinetiana esta postula nas chamadas “Invariantes Pedagógicas”, pressupostos estes que devem ser levados em conta na prática pedagógica independente do local ou período histórico. Estas “Invariantes Pedagógicas” são:

  1. A criança é da mesma natureza que o adulto.
  2. Ser maior não significa necessariamente estar acima dos outros.
  3. O comportamento escolar de uma criança depende do seu estado fisiológico, orgânico e constitucional.
  4. A criança e o adulto não gostam de imposições autoritárias.
  5. A criança e o adulto não gostam de uma disciplina rígida, quando isto significa obedecer passivamente uma ordem externa.
  6. Ninguém gosta de fazer determinado trabalho por coerção, mesmo que, em particular, ele não o desagrade. Toda atitude imposta é paralisante.
  7. Todos gostam de escolher o seu trabalho mesmo que essa escolha não seja a mais vantajosa.
  8. Ninguém gosta de trabalhar sem objetivo, atuar como máquina, sujeitando-se a rotinas nas quais não participa.
  9. É fundamental a motivação para o trabalho.
  10. É preciso abolir a escolástica.Não são a observação, a explicação e a demonstração – processos essenciais da escola – as únicas vias normais de aquisição de conhecimento, mas a experiência tateante, que é uma conduta natural e universal.
    1. Todos querem ser bem-sucedidos. O fracasso inibe, destrói o ânimo e o entusiasmo.
    2. Não é o jogo que é natural na criança, mas sim o trabalho.
  11. A memória, tão preconizada pela escola, não é válida, nem preciosa, a não ser quando está integrada no tateamento experimental, onde se encontra verdadeiramente a serviço da vida.
  12. As aquisições não são obtidas pelo estudo de regras e leis, como às vezes se crê, mas sim pela experiência. Estudar primeiro, regras e leis é colocar o carro na frente dos bois.
  13. A inteligência não é uma faculdade específica, que funciona como um circuito fechado, independente dos demais elementos vitais do indivíduo, como ensina à escolástica.
  14. A escola cultiva apenas uma forma abstrata de inteligência, que atua fora da realidade fica fixada na memória por meio de palavras e ideias.
  15. A criança não gosta de receber lições autoritárias.
  16. A criança não se cansa de um trabalho funcional, ou seja, que atende aos rumos de sua vida.
  17. A criança e o adulto não gostam de ser controlados e receber sanções. Isso caracteriza uma ofensa à dignidade humana, sobretudo se exercida publicamente.
  18. As notas e classificações constituem sempre um erro.
  19. Fale o menos possível.
  20. A criança não gosta de sujeitar-se a um trabalho em rebanho. Ela prefere o trabalho individual ou de equipe numa comunidade cooperativa.
  21. A ordem e a disciplina são necessárias na aula.
  22. Os castigos são sempre um erro. São humilhantes, não conduzem ao fim desejado e não passam de paliativo.
  23. A nova vida da escola supõe a cooperação escolar, isto é, a gestão da vida pelo trabalho escolar pelos que a praticam, incluindo o educador.
  24. A sobrecarga das classes constitui sempre um erro pedagógico.
  25. A concepção atual das grandes escolas conduz professores e alunos ao anonimato, o que é sempre um erro e cria barreiras.
  26. A democracia de amanhã prepara-se pela democracia na escola. Um regime autoritário na escola não seria capaz de formar cidadãos democratas.
  27. Uma das primeiras condições da renovação da escola é o respeito à criança e, por sua vez, a criança ter respeito aos seus professores; só assim é possível educar dentro da dignidade.
  28. A reação social e política, que manifesta uma reação pedagógica, é uma oposição com o qual temos que contar, sem que se possa evitá-la ou modificá-la.
  29. É preciso ter esperança otimista na vida.

 

Por não se adaptar a forma tradicional da educação, Freinet buscou diversas alternativas de ensino, além de relatórios diários de cada criança. Questionava os conteúdos das cartilhas, uma vez que estas não tinham a ver com a realidade da criança, não trazendo nenhum estímulo à aprendizagem da leitura.

 Para C. Freinet o centro de toda atividade escolar, era o trabalho, enfatizando-o como forma do ser humano ascender e exercer seu poder.

Algumas técnicas desenvolvidas por Freinet foram: aulas passeios, auto avaliação, autocorreção,  correspondência interescolar, fichário de consulta, imprensa escolar, livro da vida, plano de trabalho e texto livre.

Segundo Freinet, o aprender deveria passar pela experiência de vida, sendo possível através da ação, do trabalho. É com o trabalho que se desenvolve o pensamento, o pensamento lógico e inteligente que se faz a partir de preocupações materiais, sendo esta, um degrau para abstração. O ser humano se realiza e se exprime eficazmente no e pelo trabalho, era nisto que Freinet acreditava. Ao exaltar o trabalho, não está referindo-se forçosamente ao trabalho manual, pois para ele, o trabalho engloba toda pesquisa, documentação e experimentação.

A intervenção do professor era para organizar o trabalho, sem precisar de imposições ou ameaças. Célestin acreditava que a disciplina escolar se resume a executar uma atividade que envolva e torne a criança automaticamente disciplinada.

Para pensar

O professor que adota as aulas-passeio e os cantinhos temáticos na sala de aula, técnicas utilizadas e desenvolvidas por Freinet, não pode dizer por si só que é uma prática freinetiana. Célestin Freinet as criou como recursos para atingir um objetivo maior, o despertar, nas crianças, de uma consciência de seu meio, incluindo os aspectos sociais, e de sua história. Você ao promover estas atividades em sua escola tem consciência de como elas se inserem num plano pedagógico mais amplo?

 

Por Patrícia Tampelli

Jornalista e Pedagoga

Foto: Reprodução

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