Uma das principais manifestações da enfermidade que afeta cerca de 35 mil brasileiros¹ é a espasticidade, condição que provoca dores e dificuldades motoras
Superar as incapacidades físicas e manter a independência são alguns dos grandes desafios enfrentados diariamente pelos pacientes de esclerose múltipla (EM). O dia nacional de conscientização da doença, celebrado em 30 de agosto, traz à tona o impacto e os obstáculos que a progressão da EM pode acarretar. “É um dia para fazer as pessoas ouvirem sobre a esclerose múltipla, da sua existência, de suas características e dos problemas e necessidades do indivíduo”, afirma a Dra. Liliana Russo, neurologista da Associação Brasileira de Esclerose Múltipla. “Só dessa forma conseguiremos fazer com que a sociedade entenda as dificuldades que os pacientes passam”, explica.
Trata-se de uma doença neurodegenerativa, ocasionada pela inflamação e destruição da mielina, camada protetora da fibra nervosa, que tem por função acelerar a trajetória do estímulo nervoso. No momento inflamatório, há a instalação do sintoma, denominado surto e com sua remissão a cicatriz e a possível perda funcional da área acometida. A EM surge, em sua maioria, em pacientes ainda jovens, no momento em que ingressam no mercado de trabalho e se preparam para a independência, entre os 20 e 40 anos. Nessa situação, manifestações que prejudiquem a mobilidade, como a perda de força muscular e a espasticidade, podem adiar os planos e impactar negativamente a qualidade de vida dessas pessoas.
De acordo com Dr. Denis Bichuetti, Professor Adjunto do Departamento de Neurologia e Neurocirurgia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), aproximadamente de 30 a 40% dos pacientes de EM apresenta ou apresentará a espasticidade com consequente redução da mobilidade. Na literatura médica internacional, porém, pode-se encontrar relatos de manifestação em até 84% dos pacientes2. “A espasticidade é como se fosse uma câimbra constante em um dos membros, geralmente nos membros inferiores. É uma contratura permanente que causa dor, enrijecimento muscular e pode provocar grandes dificuldades para andar, por exemplo”, afirma o neurologista.
As dificuldades ocasionadas pela espasticidade, como comprometimento da marcha (caminhada) com consequente redução de mobilidade e capacidade de locomoção, têm um grande impacto na manutenção de uma vida independente3,4. Estudos apontam que cerca de um terço das pessoas com espasticidade relacionada à esclerose múltipla são obrigadas a alterar ou até mesmo reduzir as atividades diárias devido à esta manifestação2.
E como se não bastassem todas as limitações provocadas pela doença, as metrópoles brasileiras também impõem dificuldades. “Em uma cidade como São Paulo, ou em tantas outras grandes cidades do Brasil, onde as ruas e os transportes públicos não são adaptados para pessoas com dificuldades de locomoção, a espasticidade pode se tornar um problema ainda maior”, pontua Bichuetti.
Tratamento
O tratamento multidisciplinar, que inclui exercícios físicos, a fisioterapia e o acompanhamento de um médico neurologista, são as chaves para o tratamento da espasticidade. “Espasticidade é sinal de doença avançada e que necessita de uma intervenção mais urgente. Fora isso, mais da metade dos pacientes que recebo com espasticidade se adaptam bem à fisioterapia e a prática de exercícios físicos, conseguindo diminuir bem o impacto da enfermidade em sua vida”, esclarece Bichuetti. Porém, existe uma minoria, os chamados refratários, que necessitam de intervenções medicamentosas como a aplicação de toxina botulínica ou outros fármacos.
Além disso, aspectos ambientais, como o planejamento das cidades para pessoas que possuem dificuldades motoras, podem auxiliar nesta recuperação. “Pensarmos em cidades mais acessíveis não só aos pacientes de EM, mas também a todos as pessoas que enfrentam alguma dificuldade de locomoção ajudará e muito no tratamento não só físico, como também no psicológico deste indivíduo”, ressalta o especialista.