O Grupo de Teatro Névoa, de Extrema, irá reestreiar o espetáculo “Novas Diretrizes em Tempos de Paz” em Extrema. O drama estreado pelo grupo em 2016 foi apresentado em mostras da região e agora retorna aos palcos no sábado, dia 30 de março, às 20hs no Cine Teatro Fábio Andrade de Oliveira – Fabinho.
Na semana seguinte, o espetáculo cumpre temporada estudantil em parceria com escolas do munícipio e inicia circulação pela região. A primeira apresentação será no Teatro do Paço de Cambuí, no sábado, 06 de abril, também às 20hs. As apresentações são gratuitas, com ingresso consciente: os espectadores podem fazer doações a trupe ao final da peça, no modo “pague o quanto acha que vale”.
“Novas Diretrizes em Tempos de Paz” é um espetáculo em criação coletiva. O elenco traz Edson Santana como Segismundo e Marília Lavorenti como Clausewitz. Em stand-in: Eduardo Sabion também faz sessões como o agente alfandegário e Gabriel Cosmo interpreta o refugiado polonês, em sua primeira peça na companhia. A Cenografia é de Sandra Cosmo e a operação de iluminação de Eduarda Morais. O espetáculo é produzido através dos Módulos de Produção Cênica do Grupo de Teatro Névoa, com apoio da Secretaria de Cultura da Prefeitura Municipal de Extrema. Maiores informações podem ser obtidas no site gruponevoa.com, pelo e-mail produção@gruponevoa.com, ou ainda pelas redes sociais.
O espetáculo
“Novas Diretrizes em Tempos de Paz” surgiu de uma conversa do ator Dan Stulbach e o dramaturgo Bosco Brasil, logo após os atentados de 11 de setembro. Na época, os teatros se fecharam em sinal de luto e ele, que viria a protagonizar a montagem original, se perguntou qual seria a importância de sua profissão em tempos de guerra. A trama conta a história de um ator polonês refugiado da Segunda Guerra Mundial que tenta conseguir seu visto de entrada no Brasil na Era Vargas e acaba interrogado por um agente alfandegário e ex-torturador da polícia política, gerando um grande embate ideológico que discute a condição humana e os horrores do preconceito político e racial, onde cada oponente procura buscar e negar suas diversas identidades. É uma história linear: um refugiado da guerra, após perder tudo ainda sofre nas mãos de um tirano. O texto, uma fábula, segue as bases aristotélicas de tempo, lugar e ação – uma marca do autor – e tem seu clímax através da intertextualidade com a dramaturgia espanhola de Calderón de La Barca. Também é metateatral, um ator debate com um interrogador a necessidade do teatro, dentro de uma peça de teatro; e, entre o melodrama e o pós-drama, aborda a intenção didática do teatro brechtiano de maneira menos distanciada. Uma fábula que não julga as ações humanas, mas se posiciona contra a violência e na forma como isso modifica o homem em qualquer tempo, seja na guerra, na ditadura, no terrorismo ou nas desigualdades sociais.
No palco, uma cenografia tão enxuta quanto o texto de 20 páginas: uma janela de madeira e vidros quebrados e uma mesa, dois banquinhos, uma máquina de escrever e um porta-retrato. 18 de abril de 1945: 2 milhões de soldados russos chegam a Berlim dando fim à guerra, lei de anistia aos presos políticos no Brasil. Segismundo tem que sair mais cedo para evitar represálias de seus torturados, agora livres. Sr. Clausewitz desembarca do navio horrorizado com a Guerra, disposto a abraçar uma nova profissão, a de agricultor, e esquecer a carreira de ator. O choque das lembranças do que espancou sob as ordens do chefe e do que teve familiares e amigos mortos na guerra. A tortura de um com o apito do navio que está para embarcar e o metateatro do outro que, usando o teatro barroco espanhol, leva o torturador e o público, ao choro.