Por Léo Demeter
Jornalista
O cheiro de chocolate é simplesmente instigante para quem chega ao Sul de Minas pela Rodovia Fernão Dias, também principal via de acesso à cidade de Extrema. Localizado a apenas 100 km da capital paulista, o município “Portal de Minas” figura-se no cenário industrial mineiro como uma das grandes potências e uma aposta certeira na fabricação de chocolates. O clima de montanhas, a excelente localização e os incentivos fiscais concedidos são alguns dos atrativos que beneficiam o crescimento empresarial do ramo alimentício em Extrema.
A vocação industrial municipal vem de uma gestão criada pela continuidade administrativa. Outros segmentos como metalurgia, confecção, peças para o setor automobilístico, componentes eletrônicos, logística e de eletrodomésticos ajudaram a fomentar a economia regional. A área alimentícia foi outro ramo que ganhou respaldo porque ajudou a movimentar a alavanca do empreendedorismo. Com isso, empresas como Bauducco, Kopenhagen e Barry Callebaut trouxeram uma simbologia gastronômica fantástica para Extrema e renderam ao município o título de a “capital brasileira do chocolate”. Recentemente, a Rede Globo de Televisão dedicou em seu programa Globo Repórter, exibido às sextas-feiras, um especial sobre a “nova potência alimentícia”. Além do cheiro e do maravilhoso sabor do chocolate, a cidade aumentou o seu faturamento e ganhou mais fama – dentro e fora do país.
A subsidiária brasileira da multinacional belgo-suíça, Barry Callebaut – maior fabricante de chocolates do mundo –, inaugurou uma planta próxima à Praça dos Três Poderes, no bairro da Ponte Alta, e investiu R$ 28 milhões em sua planta. Ela ainda traça planos ambiciosos de expansão porque o mercado de chocolates no Brasil é bastante promissor e o município detém este privilegio logístico. A Barry fornece ainda matéria-prima para grandes empresas nacionais, inclusive as instaladas em Extrema.
A “nada doce” guerra fiscal que acirra os estados de Minas Gerais e São Paulo está mudando o perfil da cidade. Também reflexo deste crescimento são as políticas municipais de incentivo fiscal, fomentadas pela atual administração pública. Já o Grupo CRM, dono da Kopenhagen, Brasil Cacau e Dantop, transferiu toda a sua produção que estava em Tamboré, no interior de São Paulo, para Extrema em agosto de 2010. A unidade ocupa uma área de 31 mil metros quadrados e demandou aporte, naquele ano, de R$ 100 milhões. A cidade já abrigava uma unidade da Bauducco (Pandurata Alimentos) voltada para a produção de biscoitos recheados. Juntos, os três empreendimentos empregam cerca de três mil pessoas. Em época de grande demanda, como Páscoa e Natal, o número sobe pelo menos 30%, pois mais de 800 operários, segundo estimativa da administração municipal, são contratados em regime temporário. O clima da cidade, no sopé da Serra da Lopo, na Mantiqueira, favorece o manuseio do chocolate.
A Bauducco, fundada em São Paulo por imigrantes italianos, foi a grande pioneira do setor na cidade. Em 2000, a empresa inaugurou sua unidade no local. É responsável pela produção dos chamados recheados, panettones, amanteigados, e de outras guloseimas; é a maior entre as cinco fábricas do grupo (as outras quatro estão na capital paulista). Recentemente construiu um centro de distribuição próximo ao bairro Roseira, ao lado da Kopenhagen.
De qualquer forma, a oferta de vagas refletiu no crescimento expressivo da população extremense na última década; de 19,2 mil habitantes para 28,2 mil (aumento de 46,8%), conforme o censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em 2013, o censo indicou cerca de 32 mil habitantes.
Números e estatísticas a parte, a cidade reserva ainda o clima interiorano mesmo estando na divisa com São Paulo. O cheio do café passado na hora, que ainda é uma coisa do bom mineiro, mistura-se com o do chocolate. Uma combinação nada ruim.
