Queimadas ameaçam produção agropecuária, agravam emissões de Gases de Efeito Estufa e comprometem recarga hídrica do Sistema Cantareira
Os focos de incêndio na Mata Atlântica aumentaram 40% em relação ao ano passado, segundo dados do INPE. O aumento é alarmante, especialmente antes do pico da temporada seca, que costuma ocorrer entre agosto e setembro. Além de prejudicar a produção agropecuária, as queimadas liberam grandes quantidades de Gases de Efeito Estufa e afetam áreas críticas para a recarga hídrica do Sistema Cantareira. Medidas de prevenção e combate são essenciais para evitar maiores danos.
A ausência de chuvas deixa os solos e a vegetação mais secos, além de reduzir a umidade relativa do ar. Este ano, os níveis de precipitação reduzida começaram mais cedo, aumentando os riscos de incêndios. Eventos climáticos extremos, como secas prolongadas, estão se tornando mais frequentes devido às Mudanças Climáticas.
Na agropecuária as queimadas são utilizadas para limpar áreas de plantação de eucalipto e renovar pastos. No entanto, a queima prescrita precisa de autorização dos órgãos ambientais responsáveis. O grande risco apresentado pelas queimadas é a perda de controle do fogo, que pode resultar em grandes incêndios florestais. Provocar incêndios florestais em matas nativas é considerado crime ambiental, assim como a soltura de balões. Os incêndios danificam não apenas a vegetação, mas também construções, infraestruturas e colocam vidas em risco.
Embora possa parecer que as queimadas facilitem o trabalho, elas agravam a degradação do solo. Ao eliminar os microrganismos que são essenciais para a ciclagem de nutrientes necessários para a vegetação, as queimadas reduzem a fertilidade do solo em longo prazo.
Para evitar a propagação do fogo, é fundamental implantar aceiros em propriedades rurais — faixas onde a vegetação é removida ao longo de divisas, cercas e áreas de floresta nativa. Além disso, a adoção de Sistemas Produtivos Sustentáveis, como o Manejo da Pastagem Ecológica, contribui significativamente para aumentar a produtividade do pasto. Nesse sistema, os animais são separados em piquetes com rotação periódica. A rotação permite maximizar o aproveitamento do pasto, mantendo o pasto verde por mais tempo, mesmo durante períodos de seca.
Os incêndios também prejudicam o abastecimento hídrico. Em solos degradados e compactados, a água da chuva tem dificuldade de infiltrar, e acaba escoando pela superfície, levando consigo a camada mais superficial do solo e seus nutrientes. Esse problema é particularmente grave na região do Sistema Cantareira, composto por áreas com altas declividades. Isso rediz a capacidade de reabastecimento dos lençóis freáticos, ameaçando o abastecimento de água para mais sete milhões de pessoas.
Ausência de brigadas voluntárias na região
Apesar de ser uma área de mananciais de extrema importância para o abastecimento da região metropolitana de São Paulo, apenas uma brigada voluntária foi encontrada na região pelo mapeamento realizado pelo projeto Voluntariado no Manejo Integrado do Fogo, também realizado pelo IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas. A Brigada Florestal do Itapetinga combate incêndios na região do Monumento Natural Estadual da Pedra Grande, uma das áreas protegidas que integra a Área de Proteção Ambiental Sistema Cantareira. A formação de novas brigadas é uma necessidade para a região que possui poucas cidades com corpos de bombeiro que já atendem a muitos chamados no período seco.
O combate a incêndios é perigoso e necessita de treinamento e equipamentos necessários para tal ação. A compreensão dos riscos dos incêndios para a provisão de água e a adoção de medidas preventivas são essenciais para a conservação dos remanescentes de floresta, das quais depende a produção de água e alimento, a regulação do clima e outros benefícios fornecidos gratuitamente para toda a sociedade.