O celular faz parte do cotidiano da maioria das pessoas, independente de sua faixa etária.
Devido ao formato portátil e aos inúmeros recursos que possui, o aparelho é carregado para todos os lados, inclusive para as escolas.
É muito comum os alunos utilizarem o celular durante as aulas, infelizmente em momentos inadequados. Geralmente, quando o professor está ensinando o seu conteúdo, os jovens aproveitam para navegar pelas redes sociais, ouvir mp3 ou se distrair com algum jogo…
Desse modo, o aparelho telefônico torna-se um elemento indesejável, que em nada contribui para a aprendizagem, uma vez que desvia o foco do estudante da aula, além de acirrar os conflitos entre professor e aluno.
Esse “problema” gera uma polêmica no meio educacional: proibir ou não proibir o uso do aparelho na escola? Legalmente, tal uso dentro da sala é proibido. Apesar da lei, não há consenso entre os educadores e especialistas.
Existe um grupo de educadores que é a favor da proibição do celular na escola, já que ele tem sido utilizado de maneira inadequada, tirando a atenção do aluno da aula e gerando embates entre os educandos e os docentes. Outros educadores defendem que os celulares devem fazer parte do material didático, podendo ser acionados durante as aulas e servir como uma ferramenta de pesquisa, produção e divulgação da cultura e do saber.
As orientações didáticas mais recentes admitem que o uso do celular em sala de aula pode potencializar a aprendizagem dos estudantes. A praticidade do aparelho e os recursos, como acesso à internet, aplicativos e câmera digital, são algumas das ferramentas possíveis de serem exploradas no planejamento do professor. Além disso, a cultura digital favorece o trabalho em grupo, a criatividade e torna o ensino mais dinâmico.
Nesse sentido, o filósofo italiano Pier Cesare Rivoltella argumenta que os …celulares deixaram de ser apenas ferramentas de recepção. Hoje, são também de produção. Uma criança pode tirar fotos ou fazer vídeos com um celular e publicá-los na internet. Qualquer um pode editar e produzir conteúdo. (Revista Nova Escola online).
As orientações da UNESCO (órgão da ONU voltado à Educação) também corroboram a inclusão das novas tecnologias nas práticas de ensino, incluindo o celular, pois ele é capaz de “permitir a aprendizagem a qualquer hora, em qualquer lugar” (Diretrizes de políticas para a Aprendizagem móvel. UNESCO, 2013. p. 16.).
Portanto, o bom uso do celular contribui para melhorar a aprendizagem dos estudantes e torná-los protagonistas nas aulas, rompendo com a passividade do aluno-ouvinte e receptor de informações. Com as tecnologias dos celulares, o aluno torna-se produtor de conteúdo e pode publicá-lo em blogs ou em outras redes sociais da internet.
Partindo desse princípio, nas aulas do Ensino Médio da Escola Estadual Luiz Salgado Lima (Leopoldina-MG), preparamos uma sequência didática com atividades que requerem o uso do celular para pesquisar na internet.
Durante a aula, os alunos são incentivados a acessar o nosso Blog (www.acropolemg.blogspot.com), através do Aplicativo – Acrópole APP -, para ler os conteúdos digitais que postamos, como por exemplo, textos, fontes históricas diversas, vídeos, depoimentos, fotografias, músicas etc.
Em seguida, são propostas atividades desafiadoras e produções de textos, os quais são publicados no mesmo Blog.
Os resultados dessa prática são significativos. O Blog, atualmente, tem quase 90 mil visitantes, 338 postagens e o Aplicativo – Acrópole APP – já foi baixado mais de 300 vezes. Os números demonstram o forte apelo que os recursos digitais exercem sobre os jovens. Qualitativamente, as aulas ficaram mais produtivas e dinâmicas. Os alunos estão desenvolvendo mais o hábito de leitura e aprimorando a escrita para fins de postagem na internet. Assim, o celular deixou, em grande parte, de ser um problema para o ensino.
Contudo, lembramos que, para usar o celular ou qualquer outro recurso tecnológico em sala de aula, o professor precisa, previamente, planejar e elaborar atividades que desafiem e prendam a atenção dos estudantes, caso contrário eles poderão aproveitar o momento com distrações, como os chats e os games.
Essa experiência que tivemos com o celular nas aulas de História demonstrou que é possível conciliar as novas tecnologias da informação com o fazer docente tradicional. Menosprezar a influência delas, especialmente dos celulares, nas práticas educativas do século XXI, pode ser um equívoco. Devemos aproveitá-las e tentar conscientizar os alunos a fazerem o bom uso dos recursos tecnológicos disponíveis, visando democratizar a construção do conhecimento.
Por: Rodolfo Alves Pereira
Professor de História das redes estaduais de Educação de Minas Gerais e do Rio de Janeiro. Graduado em História; Pós-graduado em Ciências Humanas pela Universidade Federal de Juiz de Fora; Acadêmico do Curso de Especialização em Cultura e História dos povos indígenas, da Universidade Federal de Juiz de Fora.
Finalista do Prêmio VivaLeitura 2014. Categoria 2: Escolas públicas e privadas, com o projeto: “O celular como ferramenta de leitura e de aprendizagem”.