Novembro marca o início da temporada mais intensa de chuvas no Sistema Cantareira, mas a falta de resiliência fez com que o sistema retornasse no início do mês à faixa de 40% da capacidade, o que significa Atenção. Nos primeiros 15 dias de novembro, 70 mm de chuva foram contabilizados, 43% do esperado para o mês. Mas em outubro, choveu apenas 23% (29 mm) da média histórica; 16% a mais do outubro mais crítico registrado na região, em 1984, com 25 mm. De abril a setembro, período mais seco no Cantareira, choveu 88% (344 mm) da média histórica. Os dados são do Cemaden – Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais.
Segundo Alexandre Uezu, pesquisador e coordenador do Projeto Semeando Água, do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, localizado em Nazaré Paulista, próximo a um dos reservatórios que formam o Sistema Cantareira – além do volume há outro agravante na região, a água da chuva tem dificuldade para infiltrar por conta da compactação do solo. “O melhor lugar para armazenar água da chuva é no solo, já que assim a água é liberada aos poucos, em especial nos períodos de estiagem, mas para isso a água precisa ter tido a condição de infiltrar – o que ainda não acontece em boa parte do Sistema. Dessa forma, ficamos praticamente reféns da chuva sobre os reservatórios. As pastagens em geral degradadas têm pouca permeabilidade – capacidade de permitir a infiltração da água – e ocupam 46% do território, cerca de 100 mil hectares. Melhorar o uso do solo nas pastagens leva ao aumento da área de recarga de água da chuva, o que contribui (e muito) com o abastecimento do Sistema Cantareira. Hoje, é como se ainda desperdiçássemos água da chuva. Mudanças que melhoram as pastagens, na oferta (quantidade e qualidade) de alimento aos animais, com maior lucratividade para o proprietário passam a desempenhar o papel de aliadas da segurança hídrica”.
Para o especialista, a volta do Cantareira ao nível de Atenção reforça a importância da implementação em escala de ações que são efetivas para o aumento da resiliência do Sistema. “Se observarmos o histórico das chuvas na região, vemos que períodos mais secos – que ficam fora da média do calendário – são uma característica. Frente às mudanças climáticas esses episódios podem ficar mais frequentes. Nesse cenário, o melhor uso do solo é estratégico no aumento da resiliência do Sistema Cantareira. No Projeto Semeando Água temos trabalhado com diferentes ferramentas, com o objetivo justamente de melhorar as condições para os proprietários, buscando conciliar o aumento da produtividade, da renda com o aumento da conservação dos recursos hídricos e da biodiversidade. Melhoria da pastagem, silvicultura de nativas, sistemas agroflorestais e restauração florestal são alguns exemplos de ações que conciliam os diferentes interesses na região”.
Priorizar mudanças tendo em vista o melhor uso do solo garante benefícios não apenas a quem vive na área rural, como é o caso dos produtores rurais, mas também à população que recebe a água e que está muitas vezes a cerca de 100km de distância. “O melhor uso do solo e a restauração florestal são os reguladores da quantidade e da qualidade da água, mas também da produtividade no campo e da biodiversidade”, esclarece Uezu.
Fonte: Semeando Água