Assinatura do termo de abertura do processo de registro do gênero musical foi realizada no Palácio da Liberdade
O samba mineiro está, oficialmente, em vias de ser reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial de Minas Gerais.
Em iniciativa inédita, o Governo de Minas, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult) e do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha), realizou a assinatura do termo de abertura do processo de registro do gênero musical, durante evento no Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte.
Na ocasião também foi feita uma homenagem a José Luiz Lourenço, o Mestre Conga, que completou 97 anos em fevereiro. Ele fundou a Escola de Samba Surpresa em 1945, com apenas 18 anos, se tornando uma das principais figuras do Carnaval de Belo Horizonte.
“Que os nossos compositores possam ser reconhecidos e que a gente compreenda que muito do samba, que o Brasil inteiro, que o mundo inteiro toca e faz, foi feito em Minas Gerais e ainda é feito pelas mãos desses grandes da velha guarda”, destacou o secretário de Estado de Cultura Turismo de Minas Gerais, Leônidas de Oliveira.
O pedido de patrimonialização do samba mineiro, inclusive, foi encaminhado pelo Coletivo de Sambistas Mestre Conga, que exalta o legado do homenageado.
“A velha guarda é a guardiã do samba, é o sustentáculo dessa cultura popular de matriz africana. Ter o samba registrado como patrimônio cultural significa a valorização dessa cultura tão rica, é o reconhecimento dessa arte”, declarou Nonato do Samba, um dos coordenadores do Coletivo de Sambistas Mestre Conga.
A importância do samba em Minas
Embora frequentemente associado aos estados da Bahia e do Rio de Janeiro, o samba tem profunda importância para Minas Gerais e o estado tem influência no que se entende como o samba nacional. É o que apontam pesquisas e inventários já realizados até o momento, de acordo com o analista de identificação e pesquisa do Iepha, Bruno Vinicius Leite de Morais.
“Três dos compositores que são cânones do samba consolidado nos anos 1930 são nascidos em Minas. É o caso do Ari Barroso, natural de Ubá, Geraldo Pereira, nascido em Juiz de Fora, e Ataulfo Alves, que é de Miraí, os três da Zona da Mata mineira”, elenca, explicando que Ari e Ataulfo foram para o Rio de Janeiro aos 18 anos, já tendo, portanto, bagagem com o samba antes de chegarem à então capital nacional.
“Pela perspectiva mineira, Ataulfo Alves é o nome mais emblemático. A bibliografia sobre ele aponta que o compositor e intérprete traz uma sonoridade diferente, com caminhos distintivos dentro do samba. E esses caminhos incluem, por exemplo, o uso do canto em resposta pelas pastorinhas, com similaridades na forma de executar, que lembra a Folia de Reis em Minas Gerais”.
Esta não é a única singularidade de Minas no fazer do samba, conforme explica a gerente de Patrimônio Cultural Imaterial do Iepha, Nicole Faria Batista.
“Quando fomos fazer o inventário cultural das referências do Rio São Francisco (que nasce em Minas Gerais), foi encontrado o “batuque”, que é um tipo de dança em roda com tambor. É uma dança circular, que lembra uma matriz mais tradicional do samba, e a gente percebe essa relevância dentro de Minas Gerais”, exemplifica.
Ela esclarece que Minas não pleiteia o título de ter criado o samba, mas sim o reconhecimento da importância do ritmo no território. “É o samba aqui, ele ocorre aqui também. É interessante notar que, entre Bahia e Rio, está Minas Gerais. É um lugar de trânsito e de fixação, e os corpos que tradicionalmente fizeram e fazem os congados também fazem o samba”, conclui.
Processo de registro
O pedido de registro do samba como Patrimônio Cultural Imaterial de Minas Gerais já está em andamento no Iepha.
Neste primeiro momento, a instituição está se reunindo com detentores e pesquisadores para construir, em conjunto, um formulário de cadastro para que os diversos fazedores de samba em Minas Gerais possam registrar suas expressões culturais.
O formulário será lançado ainda neste semestre e, feito isso, haverá prazo de seis meses a um ano para que os detentores possam realizar os cadastros.
“Nossa principal estratégia de divulgação é pelo programa ICMS Patrimônio Cultural, porque os municípios pontuam quando eles cadastram os bens culturais e, depois, têm repasses financeiros. Também divulgamos nas nossas redes sociais, pelas redes e site da Secult, nas Jornadas Técnicas do Patrimônio. São diversas frentes para divulgar esses cadastros, há uma ampla adesão em todo o estado”, conta Nicole.
A pesquisa dura, em média, 18 meses, envolvendo caracterização histórica e antropológica.
O Iepha orienta a instituição pesquisadora durante todo o processo e, no ano final, o dossiê será entregue ao Conselho Estadual do Patrimônio Cultural (Conep), para que então seja feito o registro do samba como Patrimônio Cultural Imaterial.
Fonte: SECOM – Superintendência de Imprensa de Minas Gerais