Incentivos, campanha Setembro Verde e queda na taxa de recusa têm impacto no número de doadores de múltiplos órgãos
A expectativa otimista está amparada pelos números. Considerando o atual cenário em Minas Gerais, com 727 transplantes de órgãos realizados até agosto e o número recorde do ano passado (1.067) – o melhor desempenho em dez anos – é possível que 2024 mantenha ou mesmo supere a performance de 2023, que teve uma média de 89 transplantes de órgãos por mês. Este ano, até agora, a média é de 90 cirurgias mensais.
O aumento de doadores de múltiplos órgãos confirma essa tendência e indica um possível crescimento no número de doações e de transplantes realizados.
Segundo dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) em Minas, em 2021, foram 199 doadores desse tipo; em 2022, subiu para 244 e, em 2023, cresceu ainda mais, totalizando 296 doadores. Some-se a isso o fato de que a taxa de recusa familiar, que era de 38,4% em 2022, caiu para 31,4% no ano passado.
Desempenho histórico
Essa trajetória (e o consequente aumento das cirurgias para transplantes em Minas) é resultado de vários fatores que, juntos, contribuíram para o desempenho histórico este ano, que registrou 516 cirurgias de rim, 134 de fígado, 58 de coração, 15 de pâncreas/rim e quatro de pâncreas ao longo dos últimos oito meses.
Entre os motivos, estão os treinamentos em comunicação de situações críticas, que aprimoram a capacidade das equipes para conversarem com as famílias, e pela capacitação de médicos para o diagnóstico da morte encefálica – ambos realizados pela equipe do MGTX.
Outros fatores positivos são o incentivo às doações, instituído no final de 2023 pelo Governo de Minas, dentro da “Política Continuada de Ampliação à Doação e Transplante de Órgãos e Tecidos”, e as campanhas permanentes de conscientização da população sobre o assunto – em especial o Setembro Verde – que reforça a importância de informar à família a decisão de ser doador.
Mudança de cultura
A lista de espera por transplantes em Minas tinha quase 8 mil nomes até agosto (7.811). Desse total, 3.846 aguardavam por órgão e os outros 3.965 por córnea. Em relação a órgão, a maioria esperava por rim (3.679), seguido por fígado (80) e coração (22).
O cirurgião e diretor do MG Transplantes (MGTX), Omar Lopes Cançado, enfatiza a importância da doação como meio de salvar vidas. “Devemos mudar a cultura da população, e isso leva tempo. A educação para a importância do ato de doar órgãos e tecidos deve vir desde a infância para que, no futuro, todos sejam doadores e compreendam o significado dos transplantes para a manutenção da vida de milhares de pessoas em todo o país”.