Escuto muita gente tentando colocando nos outros a culpa pelos seus fracassos. O esposo, ou a esposa, algumas vezes os filhos ou os pais, o colega de trabalho, o vizinho, o governo ou outro alguém que nem conseguem identificar é responsável pelos seus fracassos. É estranha, mas existe muito essa pratica de atribuir aos outros aquilo que eles não são responsáveis. É o pensamento vitimista. Eu sou vítima do mal que me fizeram. Não sou culpado, os outros são. Muitas vezes a pessoa não identifica ninguém como autor da culpa dos fracassos, mas cria a hipótese de que existem. Fala ao orientador espiritual: “padre, eu acho que alguém está me fazendo mal. Não sei quem é, mas as coisas na minha vida estão dando muito errado. Só pode ser alguém querendo o meu mal”. Quando a pessoa cria uma hipótese dessas fica ainda mais difícil de que algo na sua vida mude.
Quando a pessoa se coloca como vítima de alguém, ela não cresce. A vítima é sempre aquela que foi ferida sem culpa. O outro é culpado. Logo, quem precisa mudar é ele. Eu não. Vejam que complicado é esse pensamento. Quem precisa mudar é o outro. Quem precisa melhorar para que a minha vida dê certo é o outro e não eu. Essa é uma das formas mais fáceis de empacar na vida. Pessoas assim não avançam enquanto não mudarem esse pensamento. Atribuem seus fracassos, suas quedas, seus problemas a responsabilidade de outros.
Ainda, quando alguém atribui aos outros seus fracassos mas nem identifica seus algozes é pior ainda. É o caso daqueles que dizem ” alguém deve estar me fazendo mal”, mas nem conseguem identificar quem é. Criaram uma hipótese. Essas hipóteses são altamente destrutivas. Atribuir a culpa a outro dos meus fracassos já é muito ruim, mais ainda atribuir a alguém que eu nem identifico. Se alguém atribui ao pai, ao vizinho, ao colega de trabalho, se eu me afastar e viver a minha vida longe dessa pessoa que supostamente me faz mal, crio condições para viver a minha vida. Ai eu preciso assumir a vida como responsabilidade minha uma vez que estou longe desse algoz. Mas com a hipótese não há solução. Ela pode me perseguir aonde vou.
Há pessoas que carregam a ideia de que a casa em que habitam ou o local de trabalho tem sobre elas uma força negativa que não as deixam viver. Nesses casos também há uma dificuldade grande de solução, porque não há algo objetivo que confirme a ideia que criaram para si. A outra pessoa pode dizer: eu não sinto nada aqui, isso é da sua cabeça. Mas nada adianta para fazê-los mudar. Naturalmente, que os ambientes nos influenciam e tem uma carga sobre nós. Mas, quase sempre, a negatividade e a suspeita é uma elaboração interior. Não estou em harmonia comigo mesmo.
Nós precisamos ser protagonistas da nossa vida. Na medida em que tomo consciência das decisões a tomar e sou livre para decidir, devo também assumir as responsabilidades daquilo que me acontece. Claro, que outras pessoas podem também me influenciar negativamente. Mas atribuir a elas o meu fracasso, quase sempre é algo exagerado. Eu sei que fui ferido, mas sei que a vida vai melhor com o meu empenho. Ninguém vai me tirar da situação que estou, senão eu mesmo. A força para superação deve brotar da minha interioridade. Ninguém vencerá se permanecer na condição de vítima. Se o culpado é o outro, o que devo fazer? Ficar aqui sofrendo minhas feridas. Eu não sou culpado de nada. Esse pensamento fraco instala as pessoas em situação de permanente sofrimento. O protagonista da sua história não assume o vitimismo. Sabe que a vida é difícil, sabe que outros podem fazê-lo sofrer, mas sabe que tem força interior para levantar e que vai dar a volta por cima. Não alimenta nele um pensamento que o amarra no sofrimento e não o deixa levantar. Ele sabe que precisa, ele mesmo, levantar e andar.
Por: Padre Ezequiel Dal Pozzo