Já teve a oportunidade de conhecer alguém que teve a vida salva graças a um órgão doado? E que tenha vivido isso por três vezes? Isso mesmo, três transplantes! Parece ficção ou campanha de doação, mas não é. Essa é a história de vida do publicitário Alexandre Barroso, 56 anos, que já recebeu dois fígados e um rim, órgãos que hoje o mantém vivo e possibilitam que ele, voluntariamente, trabalhe a importância de as famílias se “humanizarem” para dizerem sim à doação de órgãos e tecidos.
Alexandre Barroso cansou de sentir dores e foi investigar o que havia de errado. Em 2008, descobriu que tinha de Hepatite C e que a doença havia prejudicado vários de seus órgãos, especialmente o fígado, causando, inclusive, três nódulos de câncer. Dois anos depois, em 2010, ele passou pelo primeiro transplante. Frequentou hospitais da rede particular, porém, sempre usando o Sistema Nacional de Transplantes, criado e operado pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
O primeiro transplante, infelizmente, não foi bem-sucedido, por conta do avanço da Hepatite C. Alexandre passou, ao longo dos últimos anos, por 11 cirurgias e voltou de 21 comas – o último durou três dias. As complicações generalizadas fizeram o publicitário voltar para a sala de cirurgia, em 2012, onde ele recebeu outro fígado e um rim. Desta vez, os dois órgãos conseguiram salvar a vida de Barroso. “Até então, eu não sabia que o SUS era financiador do Sistema e que atuava no pré, durante e no pós-transplante. E eu sou muito grato a isso”, conta.
Alexandre não conhece os doadores ou suas famílias. Entretanto, para ele, a forma de agradecer a essas pessoas foi disseminando a doação de órgãos. “O transplante de fato é o renascimento. Sem ele, eu não estaria vivo para falar sobre isso. Sou grato a um nível maior, a todos os que são doares hoje. E também ao verdadeiro doador, que é a família, pois a única forma de doar é avisar a família. Só quem faz a doação, por Lei, são os familiares”.
Junto à Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), formada pelas empresas Avianca, Azul, Gol e Latam, Alexandre Barroso participa hoje do Jornada Asas do Bem. Trata-se de um projeto que leva a todo o Brasil a história dele, que como personagem, explica às pessoas todo o processo do Sistema Nacional de Transplantes – do sim do doador ou da família até o pós-cirúrgico do transplantado. “Uma doação de falecido pode salvar até oito pessoas”, ilustra.
Por meio do Programa Asas do Bem, as empresas áreas brasileiras citadas transportam gratuitamente, em voos comerciais, órgãos, tecidos, equipes médicas e outros insumos para os procedimentos de saúde. Só no primeiro trimestre de 2018, estas empresas transportaram 87% dos órgãos ou tecidos doados, em 1.103 voos. Apoio que contribui de forma expressiva para logística das doações realizadas e, consequentemente, no aumento de transplantes.
Além do Asas do Bem, a Força Área Brasileira (FAB) também reforça o transporte de órgãos e tecidos, levando esperança para as mais de 34 mil pessoas na lista de espera por um órgão. São os setores público e privado unidos por esta causa. “É o que eu acho que tem que acontecer. E entendo que a campanha precisa sair totalmente da mão do Estado. Ainda há muito o que se fazer, mas eu acho que é hora da sociedade trazer pra si um pouco desta competência. Hoje, faço isso até por gratidão a tudo que recebi”, ressalta Barroso.
Como recado final, em suas palestras e ao Blog da Saúde, ele deixa a seguinte mensagem: que as famílias percam o medo, as questões religiosas, outros mitos e acreditem no trabalho sério do Sistema Nacional de Transplantes para dizer sim à doação de órgãos e tecidos. “As pessoas precisam olhar melhor umas para outras, com mais amor, e que a gente possa falar em vida. Porque doação de órgãos parece que estamos falando de morte, mas é sobre vida”, completa.
Barroso e sua esposa Marcela Nanda já estiveram este ano em Goiânia (GO) e Belém (PB). A agenda de palestras está extensa.
Erika Braz, para o Blog da Saúde