Diagnóstico produzido pelo IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, com imagens de satélite de alta resolução, mostra que 60% do solo em Áreas de Preservação Permanente (APPs), que deveriam por lei estar cobertas por mata nativa, porque abrangem rios, represas e nascentes do Sistema Cantareira, estão sendo utilizados de maneira inadequada. O passivo ambiental nessas áreas é de 21 mil hectares com a necessidade de plantar ao menos 35 milhões de árvores. Desta forma, as condições ecológicas necessárias para a produção e manutenção dos recursos hídricos ficam extremamente reduzidas e problemas como erosão são agravados, assim como assoreamento de rios, nascentes e reservatórios, reduzindo a capacidade de produção e armazenamento de água.
“Em 23 de julho de 2018, o nível do Sistema Cantareira chegou a 40,8%. No mesmo dia em 2013, o índice era de 53,8%. Em maio e junho de 2018, tivemos uma quantidade de chuva quatro vezes menor do que a média histórica. Em comparação com o período anterior, esse volume é três vezes menor. Em janeiro de 2010, o Sistema estava com 96,2% de sua capacidade e em 2015 chegou a 5%, o que mostra uma baixa resiliência. Desde 1940, a quantidade de chuva em alguns momentos, chegou a níveis mais baixos do que os registrados entre 2013 e 2015 – período pré-crise e crise. O que sinaliza que provavelmente teremos novos momentos com índices baixos de chuva. Muito provavelmente ainda não saímos totalmente da crise hídrica, e corremos o risco que ela se restabeleça nos próximos meses”, pontua Alexandre Uezu, pesquisador do IPÊ e coordenador do projeto Semeando Água.
Estudos indicam, entretanto, que aprimoramentos da produção, adequação do uso do solo, melhoria das pastagens, regularização de APPs e reflorestamento podem minimizar o quadro, porém em longo prazo. “Se considerarmos as medidas de adequação do uso do solo dessas pastagens e ainda de restauração florestal, podemos até ter eventos extremos, mas certamente teremos a capacidade de absorvê-los melhor. Considerando esse cenário, com fluxos regulares de chuvas, adequação das áreas, conscientização das pessoas, em longo prazo aumentaremos a segurança hídrica relacionada aos reservatórios.” explica Alexandre Uezu, pesquisador do IPÊ.
Todas as análises fazem parte dos resultados de pesquisas sobre serviços ecossistêmicos na região, por meio de diversos projetos do IPÊ nos 12 municípios que abrangem o Sistema Cantareira.
Atividades buscam reduzir impactos e recuperar corpos hídricos
Com este diagnóstico em mãos, o IPÊ vem realizando ações na área de abrangência do Sistema Cantareira para melhoria do uso do solo, restauração florestal em APPs, educação ambiental e capacitação, com vistas a modificar essa situação. Na região do Sistema Cantareira, o Instituto é responsável pelo reflorestamento de 300 mil árvores.
Com o novo ciclo do “Semeando Água”, que tem patrocínio da Petrobras, através do programa Petrobras Socioambiental e Governo Federal, o IPÊ faz parcerias com proprietários no projeto, com capacitação, melhoria da ocupação do solo, educação ambiental e restauração. As ações de 2018 e 2019 vão acontecer em oito municípios: Bragança Paulista, Joanópolis, Mairiporã, Nazaré Paulista, Piracaia, em São Paulo, e Camanducaia, Itapeva e Extrema, em Minas Gerais.
As ações buscam melhorar o uso do solo com a implantação de sistemas de produção pecuária de menor impacto ambiental, por meio do Manejo de Pastagem Ecológica. A prática favorece a dinâmica da pastagem de modo a beneficiar a infiltração de água no solo, aumento da biomassa no sistema e a produção animal em si, por conta da oferta de mais alimento.
Mais informações: semeandoagua-com@ipe.org.br / 11 97297-3516 Com Cibele Quirino