A facilidade de acesso e o grande número de informações atraem os usuários, porém especialistas alertam que é preciso ter cautela
O ambiente virtual criou um mundo totalmente novo, que não se limita ao espaço/tempo. Diferente dos jornais, revistas e demais meios convencionais, que dependiam do número de publicações, espaço físico e data de veiculação, na internet o fluxo de notícias, artigos e informações, acontece de maneira frenética e exacerbada. Além disso, o meio digital também proporcionou ao seu público novas formas de interação, através dos comentários, reações e compartilhamentos, e, com o avanço da tecnologia, tudo isso vêm se tornando cada vez mais acessível e inflado. As pessoas usam a internet para tudo, até mesmo como fonte principal para assuntos relacionados a algo tão sério como a saúde, é o que revela uma pesquisa exclusiva, realizada pela Banca do Ramon, u m dos empórios mais tradicionais do Mercado Municipal de São Paulo.
De acordo com o levantamento, o número de pessoas que acessam a rede para sanar dúvidas nutricionais é maior do que aqueles que recorrem a um especialista, já os veículos de informações convencionais aparecem em último lugar na consideração dos entrevistados. Mas até que ponto podemos confiar nas informações que circulam na web, ainda mais diante de um tema tão importante? Os especialistas alertam: cautela é fundamental e toda informação deve ser checada, além disso, a prática não dispensa a consulta de um profissional capacitado.
Sobre o estudo
De acordo com a pesquisa “Do essencial ao Gourmet – O que os brasileiros pensam sobre alimentação saudável e produtos premium”, que contou com 1360 participantes, mais de 40% das pessoas consulta, principalmente, a internet para obter informações sobre alimentação saudável. Menos de um terço dos entrevistados (28%) apontou o médico ou nutricionista como principal referência na hora de conseguir esse tipo de informação. 16,4% consultam, principalmente, as pessoas mais próximas, do convívio social ou familiar.
Já os programas de TV, que em um cenário anterior ao advento da internet certamente figuravam no topo da lista de relevância, atualmente são consultados por menos de 3% das pessoas. É fato que a internet roubou a cena, passando em frente até dos profissionais da saúde, e isso, ao contrário do que se possa pensar, não é exclusividade dos menos favorecidos, pois, mesmo entre aqueles com renda familiar elevada o hábito de consultar essas informações na internet é predominante, pois, mais de 55% dos entrevistados ganham acima de 5 salários mínimos.
Dia Mundial da Alimentação
Comemorada no dia 16 de outubro, a data especial tem como propósito alertar a população sobre a importância de uma nutrição consciente e hábitos alimentares mais saudáveis. O tema abre espaço para uma reflexão diante de dados alarmantes: segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), na última década doenças como obesidade e diabetes aumentaram para 60% e 61%, respectivamente, além disso há outras preocupações, como colesterol e hipertensão. Em contrapartida é evidente que, com a ajuda da internet, uma corrente está se formando em prol dos hábitos saudáveis, mas é preciso, antes de aderir ao movimento, verificar se ele está na direção certa, ou se a prática faz o caminho contrário à boa saúde.
O boom das redes sociais
As plataformas voltadas a promover maior interação entre seus usuários conquistaram um importante espaço na vida dos brasileiros. De acordo com a revista Forbes, o Brasil é o maior usuário de redes sociais da América Latina, com cerca de 93,2 milhões de pessoas acessando a web para estes fins, o que corresponde a mais de 45% de toda a população do país, segundo o Instituto Brasileiro de geografia e estatística (IBGE).
Entre as principais, as redes de Mark Zuckerberg lideram a lista: WhatsApp, Facebook e Instagram são as preferidas por aqui e contribuem para difundir diversas informações, desde publicações pessoais às notícias jornalísticas, e esse é um dos fatores que ajudaram a alavancar o fenômeno “fitness” na internet, especialmente o Instagram.
Geração saúde na web
Na rede social de fotos, usada principalmente em smartphones, o usuário pode acompanhar perfis de famosos, marcas, amigos, familiares e outros. E, dentro desse vasto universo, formou-se uma corrente de pessoas que pregam a saúde e boa forma, compartilhando fotos de receitas e pratos saudáveis, rotina de exercícios físicos e os resultados obtidos com esse estilo de vida: as montagens de “antes e depois”.
Para a nutricionista Juliana Tomandl, consultora da Banca do Ramon, essa prática pode trazer tanto benefícios quanto malefícios às pessoas, tudo dependente da maneira como ela é feita: “Esse movimento em prol de hábitos mais saudáveis pode ser muito positivo se usado de forma correta, pois, as pessoas adeptas a esse estilo de vida se seguem e dão apoio umas às outras, incentivando a malhação, reeducação alimentar, o consumo de ingredientes naturais, etc. Além disso, pode ser estimulante acompanhar os registros dos esforços de como alguém mantém ou busca a boa forma, e ver os resultados atingidos ainda pode ser um incentivo a mais”.
Grupos de apoio e motivação
Um estudo realizado pela Universidade da Carolina do Sul afirma que os sites de relacionamento realmente têm o poder de ajudar seus usuários a emagrecer. Na pesquisa o Twitter foi usado como ferramenta de apoio para que os voluntários enviassem mensagens incentivando os outros participantes e, no final de seis meses, todos perderam em média 2,7% de seu peso. Segundo os pesquisadores o micro blog se mostrou uma alternativa mais econômica e rápida para atingir um grande número de pessoas que querem chegar a um peso saudável.
A onda dos desafios
O problema, de acordo com a nutricionista, é que muitas vezes as pessoas escolhem esse meio como a principal referencia e não buscam o auxílio de um especialista, isso faz com que muitos caiam em armadilhas que sabotam a dieta e emagrecimento ou, até mesmo, em situações prejudiciais à saúde: “enquanto se prega reeducação alimentar, valorização de produtos naturais e atividades físicas, está tudo certo, mas alguns perfis nessas redes sociais não se limitam a isso. Eles divulgam novas dietas, cardápios restritivos, ditam quantidades e excluem nutrientes importantes, e as pessoas acabam sendo influenciadas”.
Ao passo em que se aproxima o verão, os cuidados com a boa forma se intensificam e a nova febre do Instagram são os desafios nos quais um regime específico é adotado por determinado período para eliminar os quilos a mais, diante disso a especialista alerta: todo cuidado é pouco. “Já vi pessoas falando sobre o desafio de 30 dias bicho e planta, no qual só é possível se alimentar de carnes, frutas e vegetais, ou ainda os desafios da dieta líquida ou detox. É muito perigoso entrar nessa onda por conta própria, pois, apesar de focar em ingredientes saudáveis, o corpo precisa de todos os nutrientes para funcionar corretamente e, em determinados casos, ao invés de ajudar, pode atrapalhar o metabolismo e prejudicar o organismo” – explica Tomandl.
Cuidado com as “Fake News”
Outro fator que também merece bastante atenção é a credibilidade das fontes, Tomandl afirma que ”Nem tudo o que veicula na web está correto, muitas informações são divulgadas por pacientes que se consultaram e estão repassando as orientações ou pessoas que se acham entendidas do assunto, mas não tem a base cientifica para dissertar a respeito. Para não acabar seguindo alguém que publica informações desencontradas é necessário ponderar bem as referências”.
Nutricionista é a fonte comprovada
Tomandl aconselha que o uso da web e redes sociais com o objetivo de estimular hábitos alimentares mais saudáveis, em prol da saúde e boa forma, seja feito associado a um acompanhamento por um profissional da saúde capacitado, como um nutricionista, que está apto a prescrever a melhor dieta de acordo com as características individuais de cada paciente. “Somente o especialista pode dizer com precisão qual o melhor procedimento para cada caso. Além disso, ele também pode realizar o exame de bioimpedância para avaliar a composição corporal e verificar quanto de gordura é necessário eliminar e quanto se tem a ganhar de massa magra, e ainda pode mensurar os resultados da dieta e malhação de cada um” – explica a nutricionista.
Embora, atualmente, muitos especialistas também façam uso de ferramentas digitais, como redes sociais, blogs e sites, para compartilhar informações sobre alimentação saudável, segui-los não dispensa uma consulta presencial. Tomandl explica que as informações compartilhadas por esses profissionais, embora tenham boa procedência, buscam falar com o público em geral e não se atentam as particularidades. Para finalizar, a especialista dá a dica: “Como um grupo de apoio informal a web tem várias formas de incentivo positivas, desde os sites com diversos artigos, até as plataformas de relacionamento, mas, de forma alguma, isso substitui o acompanhamento médico, portanto, para garantir os melhores resultados, o nutricionista é o melhor aliado”.
Fonte: Banca do Ramon