O dito popular diz: Não confunda alhos com bugalhos, aludindo a não trocar uma coisa pela outra. Mas o alho não é apenas um trocadilho, na verdade, esta planta de origem controvertida tem grande influencia dentro dos costumes mundiais, estando sempre presente não somente em nossos temperos, mas em especial em nosso folclore. Alguns acreditam que o alho seja originário da Ásia Central, no entanto, ele é conhecido por todos os povos nas mais antigas épocas. No Egito Antigo era refeição obrigatória para os construtores de pirâmides, uma vez que acreditavam que o alho concedia força extra aos trabalhadores. Também os guerreiros e atletas gregos e romanos faziam questão do uso desta planta, porém, os nobres desta época não o utilizavam em seus temperos dado ao seu forte odor.
Na Europa séculos mais tarde, o alho virou mania nas casas, não somente como tempero, mas também como planta mágica; acreditavam que do alho emanava um alo protetor por onde não passariam seres fantásticos, almas penadas e principalmente bruxas e vampiros. Através de Portugal o alho chegou ao Brasil e ganhou grande aceitação dos brasileiros. No que concerne a magia brasileira, o alho também tem suas inúmeras qualidades, além de ser utilizado em chás para gripes e resfriados.
Quando a pessoa tinha fortes dores nos olhos, na parte frontal da cabeça, entortando a boca devido a paralisia facial (causado na verdade pelo estupor) acreditava-se que isso advinha do “ar” (reflexo causado por espelhos, águas etc); para saber se a causa era ou não era “ar”, amassava-se um dente de alho sobre um pedaço de papel branco e colocava-se na testa, se o alho parasse colado era realmente esta doença, se caísse deveria procurar outra causa para dita moléstia. Em caso de febre muito alta, faziam com que o doente amassasse com a sola dos pés um dente de alho no chão, além de ministrarem o chá da mesma planta. Acredita-se até hoje que o alho é um excelente vermífugo, faz bem ao coração e baixa a pressão sanguínea.
Para andar nos matos sem ter perigo de encontrar uma cobra, era costume levar no bolso um dente de alho, bem como pronunciar por três vezes o nome desta planta. Nos dias de incensar a casa, em especial na sexta-feira santa, a palha do alho era queimada junto com outras plantas aromáticas, queimar alhos em brasa afastava maus espíritos e o mau-olhado. Em exorcismos caseiros faziam o sinal da cruz na testa do sujeito com um dente de alho quebrado ao meio. O poder do alho chegava a tanto, que por mais de uma vez cheguei a ver pessoas usando o dente de alho pendurado no pescoço através de uma linha de costura, costume esse colocado até em alguns animais doentios. Tranças (réstia) de alhos atrás da porta garantiam proteção a casa, contra olho gordo, ataques de seres imaginários e feitiços.
O cinema foi responsável em popularizar o uso do alho contra os vampiros, segundo a tradição, vampiros detestam e fogem desta planta ou do seu cheiro. Em algumas regiões da Rússia é comum picar o alho bem miúdo e colocar vodka e depois de alguns minutos tomar a mistura, segundo os entendidos isso deixa a bebida ainda mais forte.
No Brasil prevalece à crença oriunda da Europa que o alho espanta todos os seres fantásticos, vampiros, mulas-sem-cabeça, bruxas curupiras e até lobisomens! Lobisomens???? Bem, quanto a isso, somente indo até Joanópolis nas noites de lua cheia para fazer o teste, mas pelo visto não funciona.
Por: Valter Cassalho