60% do solo do Sistema Cantareira não têm cobertura florestal que garanta segurança hídrica

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Em meio à maior crise hídrica e de abastecimento do Sudeste do Brasil, pesquisadores do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas alertam para os principais problemas acarretados pelo mau uso do solo nas áreas de mananciais que abastecem o Sistema Cantareira. A falta de cobertura vegetal é a principal delas.

Um diagnóstico produzido com imagens de satélite de alta resolução, mostra que 60% do solo em áreas que deveriam por lei estar cobertas por mata nativa (Áreas de Preservação Permanente – APPs), que abrangem rios, represas e nascentes do sistema de abastecimento, estão sendo utilizados de maneira inadequada. Aproximadamente 49% das APPs estão ocupadas por pasto degradado e outros usos, e cerca de 11% estão cobertas com eucalipto.

Desta forma, as condições ecológicas necessárias para a produção e manutenção dos recursos hídricos ficam extremamente reduzidas e problemas como erosão são agravados, assim como assoreamento de rios, nascentes e reservatórios, reduzindo a capacidade de produção e armazenamento de água.

Entre os anos de 2011 e 2014 houve 25% a menos de chuvas sobre a região do Cantareira em relação à média histórica. Entretanto, o volume de água nos reservatórios caiu cerca de 116% neste mesmo período, demonstrando evidência sobre a fragilidade do Sistema, afirma Oscar Sarcinelli, pesquisador do IPÊ.

Estudos indicam, entretanto, que a melhoria da produção, adequação do uso do solo, melhoria das pastagens, regularização de APPs e reflorestamento podem reverter o quadro, porém em longo prazo. A estimativa é que para restaurar essas APPs, sejam necessárias 34 milhões de árvores.

“Se considerarmos as medidas de adequação do uso do solo e de restauração florestal, podemos até ter eventos extremos, mas certamente teremos a capacidade de absorvê-los melhor. Considerando esse cenário, com fluxo regulares de chuvas, adequação das áreas, conscientização das pessoas, a longo prazo aumentaremos a vida útil dos reservatórios.” explica Alexandre Uezu, pesquisador do IPÊ.

Todas as análises fazem parte dos resultados de pesquisas sobre serviços ecossistêmicos na região, por meio de diversos projetos do IPÊ nos 12 municípios que abrangem o Sistema Cantareira.

As florestas presentes na região são fundamentais para a recarga hídrica do sistema, pois conferem uma infiltração mais lenta e limpa da água da chuva no solo. Independentemente de onde as APPs estejam localizadas, a ausência de cobertura florestal nessas áreas permite uma degradação ambiental em escala, pela inerente característica de estarem associadas aos recursos hídricos, já que funcionam como matas ciliares (que protegem as bordas de rios e nascentes retendo mais água e garantindo a qualidade de seus nutrientes).

Atividades buscam reduzir impactos e recuperar corpos hídricos

Com este diagnóstico em mãos, o IPÊ vem realizando ações na área de abrangência do Sistema Cantareira para melhoria do uso do solo, restauração florestal em APPs, educação ambiental e capacitação, com vistas a modificar essa situação. Na região do Sistema Cantareira, o Instituto é responsável pelo reflorestamento de 300 mil árvores.

Em Nazaré Paulista, com o projeto“Nascentes Verdes, Rios Vivos” o IPÊ busca conciliar a produção de mudas nativas da Mata Atlântica com a restauração florestal de áreas degradadas em APPs e ações de educação ambiental voltadas para a valorização dos recursos ambientais da região. Em cinco anos, o projeto mantém 150 hectares de áreas degradadas em processo de restauração florestal. Mais de 250 mil mudas já foram plantadas e todos os alunos de 11 a 13 anos da rede pública de ensino são beneficiados anualmente pelas atividades socioeducativas.

Os resultados são fruto de diversas parcerias, entre elas a SABESP, que detém a outorga do Sistema Cantareira e concede suas áreas para restauração. Também a Prefeitura de Nazaré Paulista e a CATI – Nazaré Paulista (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral). Diversos parceiros empresariais e cidadãos, doadores individuais, estão engajados com o Projeto e o apoiam ao longo dos anos.

Já com o projeto “Semeando Água”, que conta com o patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, o IPÊ busca o apoio de pequenos proprietários de oito cidades de abrangência do Sistema Cantareira, com capacitação, melhoria da ocupação do solo, educação ambiental e restauração. Por exemplo, estão tentando mudar a característica do mau uso do solo com a implantação de sistemas de produção pecuária de menor impacto ambiental, por meio do Manejo de Pastagem Ecológica. A prática favorece a dinâmica da pastagem de modo a beneficiar a infiltração de água no solo, aumento da biomassa no sistema e a produção animal em si, por conta da oferta de melhor forragem.

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