Mais Médicos: povo morrendo nas filas e nós discutindo ideologias e raças!

LuizFlavio_ArtigoLUIZ FLÁVIO GOMES, jurista e coeditor do portal atualidades do direito.com.br. Estou no facebook.com/professorLFG

 

O mundo civilizado, sobretudo desde o século XIX, despreza patentemente e condena o Brasil e toda América Latina em razão do seu atraso e da sua enorme ignorância. Claro que, hoje, há excessos nessa estreita visão. Mas tem coisas que realmente parece que somente ocorrem por aqui (não é a jabuticaba). Veja o debate histérico e preconceituoso do programa Mais Médicos, que em lugar de nos proporcionar progresso, avanço, com análise criteriosa dos argumentos favoráveis e contrários, acabou se descarrilhando para o mundo das ideologias, do corporativismo e do populismo (H. Schwartsman, Folha 7/9/13, p. A2).

Os médicos denunciam as péssimas condições da saúde no Brasil (estão certos!), mas, no fundo, têm medo de perder uma parte do mercado; o governo está certo em atender cidades sem médicos, mas poderia ter feito um plano de carreira; acabou optando pela “importação de médicos cubanos” para as cidades desassistidas, que foram recebidos, no Ceará, com preconceito, porque “são negros ou negras”; elas teriam “caras de empregadas domésticas”. Radicalização mais estúpida impossível, que tem antecedente no Império brasileiro: os médicos da princesa Leopoldina, mulher de D. Pedro I, expulsaram do Brasil seu médico austríaco, Kammerlacher! A “importação de cubanos” virou, ademais, prato cheio para a direita ideologizar a discussão, enquanto o povo morre nas filas dos hospitais por falta de médicos, de condições para o exercício da medicina etc.

O Brasil está na UTI, nas últimas, e nós estamos discutindo ideologias! Devemos reconhecer (como fez M. Bomfim em 1903, A América Latina) “que é triste a condição em que nos achamos. É triste, é vergonhoso, quase, que, após 400 anos [agora, 500 anos] de existência, ao fim de um século [agora dois séculos] de vida autônoma, a civilização não seja para os americanos do Sul [incluindo Brasil] mais que um fardo a esmagá-lo, fonte de dores e de lutas sangrentas; e que o progresso não passe de aspiração mal definida, grito pomposo na retórica estafada”. Que lamentável atraso!

A reconstrução do Brasil passa por reformar completamente esse mastodonte desgovernado, visto que é a um só tempo miserável e perdulário (Dráuzio Varella), ou seja, miserável para alguns e parasitário para outros (por isso que não avança civilizadamente).

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