LUIZ FLÁVIO GOMES, jurista e coeditor do portal atualidades do direito.com.br
“Eu não me interesso por um clube que me aceite como sócio” (Groucho Marx)
O ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, transferiu sua residência (de Miami) para o principado de Andorra, que fica nos pés dos Pirineus (entre França e Espanha). Reportagem do Estadão (Jamil Chade) revelou que um terço da renda dos amistosos da seleção brasileira acabava depositado nas contas (em Andorra) de Sandro Rosell, amigo de Teixeira e hoje presidente do clube Barcelona. A cada ano Teixeira terá de passar 150 dias no principado, que é conhecido por ser um paraíso fiscal, que nada mais é que o ancoradouro daquilo que normalmente é obtido no mundo todo de forma parasitária (mais precisamente, por meio do parasitismo depredador). Para ser aceito no clube parasitário de Andorra é preciso depositar pelo menos 400 mil euros nas contas de um banco do principado. Teixeira negociou sua transferência para o paraíso fiscal depositando no banco AndBank 4,9 milhões de euros (que estão sendo lavados pelo banco citado).
Paraíso fiscal não tem acordo de extradição com o Brasil
Vivendo em Andorra, Teixeira não teria como ser extraditado ao Brasil caso fosse convocado pela nossa Justiça. Andorra e Brasília não contam com acordo de extradição. O Estadão revelou uma série de informações exclusivas sobre Teixeira e como seus esquemas dentro da CBF permitiam que os amistosos da seleção fossem usados para desviar recursos da CBF para contas de amigos do cartola. Dentre eles está Rosell, presidente atual do Barça. A reportagem também revelou como, em 2010, a Justiça suíça constatou que Teixeira recebeu milhões de euros em propinas de empresas ligadas à Fifa, justamente em contas em Andorra.
Bola redonda
Com Ricardo Teixeira na presidência da CBF a bola não rolou somente no gramado. Ele não comeu bola em nenhum momento, aceitou-a (ou a solicitou, senão a exigiu). Andorra agora diz que foi a Polícia Federal do Brasil que informou, em 2012, que ele não teria nenhum antecedente. A melhor maneira de encerrar este artigo consiste em parafrasear o diálogo transcrito por Manoel Bonfim em seu livro A América Latina – Males de Origem (p. 75):
LADRÃO PEQUENO: (…) E vós mesmos, que tendes feito até hoje?
LADRÕES GRANDES: Temos vivido como heróis: os mais bravos entre os bravos, os mais nobres entre os nobres e os mais poderosos dos conquistadores. E tu, ladrão miserável, que andas fazendo?
LADRÃO PEQUENO: Tudo que fiz com algumas dezenas, vós o fizestes com centenas de milhares, sobre nações inteiras.
LADRÕES GRANDES: Mas nós somos conquistadores.
LADRÃO PEQUENO: Mas o que vem a ser um conquistador? Não percorrestes em pessoa toda a terra, como um gênio mau ou astuto, destruindo ou se apropriando dos frutos do trabalho alheio… pilhando, matando, surrupiando, sem lei e sem justiça, simplesmente para satisfazer uma sede insaciável de domínio, de posse, de enriquecimento sem causa?
LADRÕES GRANDES: Nós somos pessoas diferentes.
LADRÃO PEQUENO: Onde está a diferença, senão no nascimento e nas oportunidades desiguais? A discriminação e o parasitismo fizeram de vós reis, imperadores, presidentes, parlamentares, e, de mim, um simples mortal. Sois ladrões mais poderosos do que eu… Uma outra diferença é que nós vamos para a cadeia e vós não, salvo raras exceções.
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