Pigarrear, balançar a perna, piscar ou emitir sons fora do contexto. Estes são alguns exemplos do Transtorno do Tique, caracterizado por movimentos involuntários, súbitos, rápidos, recorrentes, não rítmicos e estereotipados, que também podem aparecer na forma de vocalizações.
Os tiques são muito comuns na infância e na adolescência. Estima-se que os tiques transitórios afetam de 11 a 20% das crianças em idade escolar. Além disso, os tiques são três a quatro vezes mais comuns nos meninos que nas meninas.
A boa notícia é que na maior parte dos casos, os tiques desaparecem na fase adulta. Entretanto, segundo a neuropediatra, Dra. Andrea Weinmann, do Centro Neurológico Weinmann, as crianças afetadas pelo Transtorno do Tique podem sofrer prejuízos acadêmicos, assim como passar por situações de constrangimento na escola ou com os amigos. Por isso, é importante abordar o assunto para derrubar alguns mitos”.
Classificação
As três principais formas de Tique, segundo o DSM-V são: Transtorno de Tique Provisório que consiste em tiques motores, vocais ou mistos que duram menos de um ano; o Transtorno de Tique Persistente que consiste na presença de tiques motores ou vocais (que não podem acontecer ao mesmo tempo) e que duram mais de um ano. E, finalmente, a Síndrome de Tourette ou Transtorno de Tourette que se caracteriza por múltiplos tiques motores e pelo menos um tique vocal com duração maior de um ano, sendo esta a forma mais grave de todas.
Premonição e alívio
Os movimentos relacionados ao Transtorno do Tique podem ocorrer de forma contínua ou em acessos. “Geralmente, os pacientes relatam uma sensação desconfortável antes do tique surgir, chamada de sensação premonitória. Além disso, após realizar o movimento ou som, é relatada a sensação de alívio. Vale lembrar que durante o sono ou atividades que exijam concentração, é comum que os tiques não aconteçam. Porém, em situações de estresse, cansaço, ansiedade ou excitação eles podem piorar”, explica Dra. Andrea.
Tiques motores e vocais
Os tiques motores podem envolver apenas um músculo, um grupo muscular inteiro ou vários músculos ao mesmo tempo. Por isso, são classificados em simples e complexos.
“Nos simples temos o pestanejo (piscar os olhos), movimentar o nariz ou fazer caretas. Já nos complexos são exemplos girar os membros (braços e pernas), bater repetidamente com o pé no chão, bater os dedos na mesa, dar de ombros, entre outros. Nos casos mais graves, temos a copropraxia, que é realização de movimentos súbitos com carácter obsceno”, diz Dra. Andrea.
Os tiques vocais ou fônicos podem ter ou não significado linguístico. Por isso, também são classificados como simples ou complexos. Fungar, pigarrear, repetir sons, palavras ou frases (ecolalia), repetir o último som ou palavra dita (palilália) e, por último, a coprolalia (repetir palavras de carácter obsceno ou não aceitas socialmente).
Relação dos Tiques com TDAH e TOC
O Transtorno do Tique costuma surgir, em média, aos sete anos de idade. “Há crianças que desenvolvem mais precocemente e outras mais tardiamente. Mas, como critério para o diagnóstico é preciso que o tique tenha se desenvolvido antes dos 18 anos de idade e não esteja relacionado a nenhuma outra patologia”, comenta a neuropediatra.
Outro ponto importante é que a associação do Transtorno de Tique com o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), com o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) e com dificuldades de aprendizagem é frequente. Estima-se que 10% das crianças com TDAH apresentam tiques e 50% das crianças e adolescentes com Síndrome de Tourette também apresentam TDAH.
Como o Tique é tratado?
O diagnóstico é clínico. O médico pode solicitar alguns exames apenas para descartar outras patologias. “Em relação ao tratamento, há medicamentos que podem ser prescritos quando os tiques interferem muito no dia a dia. Em outros casos, quando há outras patologias associadas, também pode ser feita terapia medicamentosa, mas cada caso é avaliado individualmente”, afirma Dra. Andrea.
Como o estresse é um importante fator desencadeante dos tiques, é importante contar com apoio de um psiquiatra e de um psicólogo também, além de estimular atividades que induzam ao relaxamento.
O Tique tem cura?
“A história do Tique nos mostra que melhoras e pioras fazem parte do quadro, independentemente do tipo de tratamento feito. Na maioria dos casos há melhora durante a adolescência e fase adulta. Entretanto, em cerca de 30% dos pacientes o quadro persiste durante a vida toda”, finaliza a neurologista infantil.
Fonte: Ascom – Centro Neurológico Weinmann